Natal é uma festa a ser comemorada em clima de alegria familiar. Essa alegria deve irradiar-se e produzir gestos de fraternidade e gentileza. No latim, gentilis era quem pertencia à mesma família ou clã. Podemos supor que entre pessoas unidas pelos laços do sangue é bem-visto que todos se tratem com respeito, com gentileza. Hoje, ser gentil é tratar todo mundo como gente. No inglês, a palavra gentleman (que surgiu no século XIII) conserva a ideia de alguém cuja conduta se caracteriza pela boa educação, pelas palavras adequadas, pelas virtudes da convivência, pelos modos cavalheirescos. No antigo francês, gentil significava "bem-nascido", alguém de família nobre (o que nem sempre significava ser gente fina, mas enfim...). Voltando ao latim, gens, que designava o conjunto daqueles que possuíam origem comum, recebeu o sentido ampliado de "povo", "nação", "país". Daí a palavra "gentios", indicando os povos estrangeiros, os não civilizados do ponto de vista romano. Mais tarde, na concepção judaico-cristã, "gentios" serão os pagãos.
O Natal é a comemoração do nascimento de Jesus Cristo, mas o dia 25 de dezembro não é a data histórica de sua vinda ao mundo. Aliás, não há indicações bíblicas a respeito. Foi a antiga tradição cristã que estabeleceu esse dia, reinterpretando a festa pagã em homenagem ao deus-sol. No dia 25 de dezembro, comemorava-se o dies natalis Solis Invicti, isto é, o "dia do nascimento do Sol Invicto". Este Natal pagão radicava-se numa percepção meteorológica e astrológica. No dia 24 de dezembro, no hemisfério norte, os povos tinham consciência de que estavam vivendo o solstício do inverno: o dia do ano em que menos luz solar chegava à Terra. Mas o dia mais escuro e frio é também o início de uma nova etapa. No dia seguinte, dia 25, o sol começava a voltar de sua descida mais profunda. O deus-sol renascia e vinha ao encontro de seus adoradores. Para os cristãos, o verdadeiro Natal era o nascimento de Jesus, a luz do Alto que veio afastar as trevas do medo, aquecer nossos corações, revitalizar a esperança, salvar o mundo. A festa pagã foi sendo cristianizada. Ao ver que o hábito se impunha, o papa Libério, no ano de 354, determinou que em toda a Cristandade, no dia 25 de dezembro, seria celebrado o dies natalis Domini, o dia do nascimento do Senhor. Ao contrário da Páscoa, que acontece em datas móveis a cada ano, o Natal é comemorado sempre no dia 25 de dezembro, mesmo no hemisfério sul, quando se está vivendo o solstício de verão. Ao contrário do que acontece no hemisfério norte, nós temos dias mais longos, mais iluminados, e nossas noites são mais curtas neste tempo de Natal.
é escritor, tradutor, doutor em Filosofia da Educação (USP), professor, palestrante, blogueiro, autor de vários livros sobre leitura, linguagem, escrita criativa, educação, formação docente e estética.
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