Ciúme dói. Corta o amor sem dó, sem razão, sem anestesia. Sofre o ciumento. E sofre quem vê a pessoa amada receber na pele o corte profundo do ciúme.
No latim vulgar teríamos *zelumen, proveniente do latim clássico zelus, cuja abertura semântica nos faz pensar numa proximidade confusa (e sugestiva) entre "zelo", "ciúme" e "cio", sempre com a presença do ardor, do fervor e do amor.
A palavra "zelote" reúne esses traços. Houve na história de Israel uma seita fanática assim denominada. Os zelotes, no primeiro século depois de Cristo, desencadearam a revolta da Judeia contra a ocupação romana. Não se viam como fanáticos, mas como zelosos, ciosos (algo de cio aqui também) seguidores da verdade, da fé religiosa e da pátria.
O ciúme corta e queima o ciumento. E o leva a um estado de contínua tensão/atenção/tesão. Os olhos apaixonados do ciumento espreitam. Em francês, jalousie ("ciúme") passou a designar também a persiana, através da qual o observador obcecado olha sem ser visto.
O romance La jalousie de Alain Robbe-Grillet (1922-2008), lançado em 1957, foi editado nos EUA certa vez, já nos anos 60, com uma capa que mostra ciúme e persiana associados.
sábado, 9 de abril de 2011
O gume do ciúme
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2 comentários:
A palavra ciúme está sempre atrelada à palavra zelo, mas são palavras diferentes, pelo menos em português, bem diferentes. Neste caso, como é que chegamos a palavra ciúme? foi um neologismo ou uma metamorfose lenta da palavra zelo?
Olá!
Os estudiosos propõem que a palavra "zelúmen", no latim vulgar (medieval), teve a seguinte evolução: "cehume" e "cyume" no século XV, e "ciume" no século XVI. De lá para cá já teríamos o nosso "ciúme".
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