sábado, 9 de abril de 2011

O gume do ciúme

Ciúme dói. Corta o amor sem dó, sem razão, sem anestesia. Sofre o ciumento. E sofre quem vê a pessoa amada receber na pele o corte profundo do ciúme.

No latim vulgar teríamos *zelumen, proveniente do latim clássico zelus, cuja abertura semântica nos faz pensar numa proximidade confusa (e sugestiva) entre "zelo", "ciúme" e "cio", sempre com a presença do ardor, do fervor e do amor.

A palavra "zelote" reúne esses traços. Houve na história de Israel uma seita fanática assim denominada. Os zelotes, no primeiro século depois de Cristo, desencadearam a revolta da Judeia contra a ocupação romana. Não se viam como fanáticos, mas como zelosos, ciosos (algo de cio aqui também) seguidores da verdade, da religiosa e da pátria.

O ciúme corta e queima o ciumento. E o leva a um estado de contínua tensão/atenção/tesão. Os olhos apaixonados do ciumento espreitam. Em francês, jalousie ("ciúme") passou a designar também a persiana, através da qual o observador obcecado olha sem ser visto.

O romance La jalousie de Alain Robbe-Grillet (1922-2008), lançado em 1957, foi editado nos EUA certa vez, já nos anos 60, com uma capa que mostra ciúme e persiana associados.

2 comentários:

Anônimo disse...


A palavra ciúme está sempre atrelada à palavra zelo, mas são palavras diferentes, pelo menos em português, bem diferentes. Neste caso, como é que chegamos a palavra ciúme? foi um neologismo ou uma metamorfose lenta da palavra zelo?

Gabriel Perissé disse...

Olá!

Os estudiosos propõem que a palavra "zelúmen", no latim vulgar (medieval), teve a seguinte evolução: "cehume" e "cyume" no século XV, e "ciume" no século XVI. De lá para cá já teríamos o nosso "ciúme".