quinta-feira, 30 de junho de 2011

Há algo de chique no chiqueiro?

Faz alguns dias, perguntaram-me pelo formspring: "Professor, gostaria de saber de onde vem a palavra 'chiqueiro', no sentido de lugar onde se criam porcos... Obrigada!!!"

Do árabe shirkair, "cabana", chegando até nós por meio do castelhano chiquero. Esta é uma hipótese para designar a pequena habitação dos porcos. Já o chiqueirinho, ou cercadinho, é o móvel onde se colocam crianças pequenas. Nada a ver com pocilga, e existem chiqueirinhos bem chiques.

"Chique" é galicismo que já usávamos no final do século XIX. Mas chic, termo comum no mundo da moda, foi germanismo incorporado pelos franceses. Na Renânia e na Alsácia, usava-se a palavra schick, derivada do verbo schicken ("preparar", "pôr-se no caminho"). Uma pessoa chique está preparada, vestida com elegância, para sair. Por extensão, chique é tudo aquilo que se apresenta com requinte.

3 comentários:

Anônimo disse...

I have been searching for this information and finally found it. Thanks!

Gabriel Perissé disse...

Recebi um comentário do Professor Ari Riboldi, e aqui o transcrevo:

"Oi, Professor Gabriel:

Li, no teu blog, uma postagem sobre chiqueiro. Tomo a liberdade de contribuir ainda mais sobre o tema, com pequenos textos do meus livros O Bode Expiatório e O Bode Expiatório 2, sobre o chiqueiro e o porco. Como sou criado na roça, conheço a lida diária com porco à moda antiga: matança, castração, banha, salame, etc. Para chamar o porco, a gente diz: chic, chic. chic. E ele vem em busca da espiga de milho. Quanto à etimologia de chiquiero, há controvérsias. A galinha vai para o galinheiro. Por que o porco não vai para o porqueiro? Em Portugal, chico é o nosso porco.

AGORA É QUE A PORCA TORCE O RABO

Situação difícil, de extrema dificuldade, hora de tomar decisão difícil. A frase, provavelmente, venha de um antigo modo da apartar porcos no chiqueiro, cena comum em nosso meio rural. A maneira mais prática de dominar o animal era pegá-lo pela cauda. Ele reagia, torcendo o traseiro de um lado para o outro. Se o homem resistisse e não largasse a cauda, após várias voltas, o porco acabava indo para o lugar desejado.

Cabe lembrar que chiqueiro é o lugar de guardar os chicos, nome que os portugueses davam aos porcos. Chico não é a forma carinhosa de Francisco, embora assim seja usual no meio popular. Deduz-se daí que chico e chiqueiro são palavras de construção onomatopaica, já que, ao chamar os porcos, seus tratadores diziam: chic, chic, chico, chico...

Por sua vez, a porca, a que enrosca no parafuso, deve seu nome à semelhança com a anatomia do órgão genital do porco – em forma de parafuso – e da vagina da fêmea, que, internamente, tem forma rosqueada.

(continua...)

Gabriel Perissé disse...

(continuação)

HOMEM É COMO PORCO: SÓ SE SABE O VALOR DEPOIS DE MORTO

Ditado não muito conhecido do meio urbano, caindo no desuso também no meio rural, todavia portador de rara sabedoria, dentro do contexto em que se originou.

Antigamente, os porcos eram criados ao relento, sem cuidados, em cercados feitos de pedra, com o nome de taipa. Comiam restos de alimentos, a lavagem, viviam soltos, com o que estavam sujeitos a muitas doenças. Ao serem abatidos, aberta a barriga, constatava-se que muitos deles estavam acometidos por doenças e sua carne não podia ser aproveitada para o consumo humano. Eram, então, usados para a fabricação do sabão grosso, com o
uso de soda, prática ainda comum em nosso interior. Se o porco fosse vendido
a um frigorífico e lá, depois de abatido, se verificasse a presença de alguma doença, cabia ao vendedor do porco apenas lamentar, pois não receberia o valor equivalente ao peso do animal. Eram pesados ainda vivos, pois o valor era calculado por determinada quantia
por quilo do animal vivo. O esterco do suíno, como o de outro animal, é fedorento. Eu lembro, na minha infância de interior, que se dizia - algo tido como normal e comum - que homem que fedia a esterco de porco era alguém que tinha dinheiro, que era rico. O que seria falta de higiene,
naquele tempo tinha um significado de riqueza, de poder, de respeito. Se uma pessoa fedesse a porco evidenciava que possuía fonte de riqueza, ou seja, os bichos vendidos a um frigorífico rendiam-lhe dinheiro, para muitos, a única fonte a ser transformada em moeda.

Pelo exposto acima, explica-se o motivo pelo qual só se sabia o valor de um porco depois de abatido e aberta a sua barriga. Da mesma forma, acontecia com os homens: só se sabia o seu valor, sob o ponto de vista ético
e moral, depois de mortos. Enquanto viviam, podiam esconder negócios ilícitos e, particularmente para os costumes da época, manter amantes e filhos bastardos longe da sua tradicional família. Após a sua morte, os comparsas que guardavam segredos acabavam revelando ou, o que era mais dramático, as "viúvas" apareciam para chorar sobre o caixão do falecido, para espanto da verdadeira viúva e dos familiares e parentes. Ou seja, a casa caía e o verdadeiro homem era conhecido depois de sua morte.

Atrás de cada palavra, frase, expressão e ditado, há um mundo, um
longa história de hábitos e costumes. O ditado acima tem uma versão semelhante, nas regiões Norte e Nordeste do Brasil: “Depois de morto é que se vai ver a banha que o porco tem”. A interpretação é a mesma, o que ratifica a origem nos costumes locais."