Há uma diferença, do
ponto de vista etimológico, entre necrópole e cemitério.
Ambas
são palavras que vêm do grego, mas com inspirações
contrárias. Necrópole é a "cidade dos mortos", de nekrós
("morto", "cadáver"), pólis ("cidade"). A Necrópole de
Gizé, no Egito, é um dos maiores exemplos da antiga arquitetura a serviço de um
projeto post-mortem.
Para esta cidade se
dirigiam o rei-defunto, a rainha e os sacerdotes do reino. A morte é uma viagem
sem volta, e o faraó se preparava para essa jornada com imensa preocupação.
Após a morte, deveria continuar reinando, mas agora sobre os demais mortos.
Já o cemitério possui
uma outra conotação. O elemento "-tério" é um pospositivo do
grego que se refere ao local onde se realiza o que é expresso pelo
antepositivo. O monastério é o lugar onde ficam os monges. O presbitério é
o lugar onde ficam os anciãos (os presbíteros). E o cemitério é o
lugar onde as pessoas dormem, porque o antepositivo do grego koimétêrion ("lugar
para dormir") é o verbo koiman ("dormir").
A palavra começou a ser
usada pelos primeiros cristãos, que viam na morte um momento de descanso. Os
mortos vão dormir, na esperança de saírem do túmulo. Preparam-se para acordar,
tal como Jesus ressuscitado. O cemitério é lugar passageiro,
silencioso, um dormitório para uma noite mais ou menos longa: o novo dia está
por vir.