segunda-feira, 31 de maio de 2010
Pesquisa de rua
Observar a rua, a realidade nua, a paisagem urbana. E ver a sua etimologia. Por exemplo, é comum encontrar pais carregando o filho no cangote. Hábito tolo e arriscado, no meu entender. Mas de onde vem a palavra "cangote"?
Por influência da palavra "canga", transformamos "cogote" (parte posterior da cabeça) em "cangote". E "cogote" nos remete ao aragonês cocote, ao asturiano cocorote e ao basco kokote, parentes do provençal cogot — todos nasceram do latim cucutiu, "touca".
Qualquer tecido que sirva de invólucro para a cabeça e desça pela nuca até o pescoço pode ser um cangote, um capuz, uma capa. Por inversão típica da linguagem, o cangote passou a ser essa região do corpo. A expressão "montar no cangote" significa dominar alguém.
Quando um pai coloca o seu fillho no cangote quer dar à criança o poder de estar sobre ele, sinalizando para os demais que seu filhote é importante. O perigo está em que a criança, por descuido, caia da cavalgadura.
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Violência não... mas conflito sim
Violência e conflito pertencem ao mesmo campo semântico, mas tem suas diferenças. A etimologia pode ajudar a esclarecer semelhanças e enfatizar contrastes?
A palavra "violência" tem ligações perigosas com a palavra latina virtus, "força". A palavra "virtude" também está vinculada à força. Não se pode fazer o bem de maneira frouxa. Os antigos se referiam à violência do vento, do sol... como coisas naturais, embora muitas vezes terríveis.
A violência viola, agride, maltrata. Entre os homens, a violência é caminho torto para resolver conflitos, que sempre existem. A palavra remete a um choque (entre dois corpos, duas opiniões, duas forças). Não há história sem conflito. Não há romance, conto ou poesia sem conflito. Não há vida sem conflitos, internos e externos.
Esse entrechoque está presente no verbo latino fligere, "bater", "ferir". O conflito é inevitável, e pode tornar-se violência. A violência nasce do vazio. O conflito, da convivência. A sabedoria está em fazer dos conflitos ocasião de crescimento.
A palavra "violência" tem ligações perigosas com a palavra latina virtus, "força". A palavra "virtude" também está vinculada à força. Não se pode fazer o bem de maneira frouxa. Os antigos se referiam à violência do vento, do sol... como coisas naturais, embora muitas vezes terríveis.
A violência viola, agride, maltrata. Entre os homens, a violência é caminho torto para resolver conflitos, que sempre existem. A palavra remete a um choque (entre dois corpos, duas opiniões, duas forças). Não há história sem conflito. Não há romance, conto ou poesia sem conflito. Não há vida sem conflitos, internos e externos.
Esse entrechoque está presente no verbo latino fligere, "bater", "ferir". O conflito é inevitável, e pode tornar-se violência. A violência nasce do vazio. O conflito, da convivência. A sabedoria está em fazer dos conflitos ocasião de crescimento.
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terça-feira, 25 de maio de 2010
A viagem do líder
O líder, sendo líder de si mesmo, tem autoridade e carisma. Atrai e impulsiona. A palavra "líder" remete ao verbo inglês to lead, "guiar", "conduzir", conectado a ga-lidan, "viajar", do alto alemão antigo (ano 500 até 1050). O líder viaja à frente e, por isso, tem capacidade de ser mentor de outros viajantes.
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domingo, 23 de maio de 2010
Capa e palavra controvertidas
A capa da Revista Veja desta semana (edição 2166) traz o rosto de uma mulher acusada de torturar uma criança. Talvez o melhor fosse não mostrar esta senhora. Se ela for vítima de problemas psiquiátricos, não deveria ser exposta. Se ela for inocente (parece improvável...), um motivo a mais para não ser exposta. Se ela for conscientemente má, não deveria ser exposta e tornar a maldade atraente e "premiada".
A frase "A confissão da bruxa" confirma a condenação. Fogueira é o seu destino. E de onde vem a terrível palavra "bruxa"?
A origem é desconhecida, dizem alguns. Controvertida, dizem outros.
Uma hipótese é que proceda da palavra celta *ver-ouxa, "a que está muito alta", aludindo ao voo das bruxas, físico, ou à capacidade de voar mentalmente.
Outra hipótese: o latim vulgar *bruxu, "gafanhoto sem asas", um inseto feio e daninho. Mais tarde o termo teria sido aplicado ao demônio e aos hereges: "bruxos" e "bruxas".
Outra, bem curiosa: viria do basco buruz, traduzível pela expressão "de cabeça para baixo". Alguns etimólogos afirmam que dessa palavra veio o nosso "de bruços". Mas outros especulam que se refere às bruxas, cuja cabeça está escondida sob o capuz.
Outra possibilidade faz pensar que as bruxas, por saberem adivinhar coisas, por sua astúcia e sagacidade, têm a ver com a "bússola" (que adivinha o rumo), em consonância com o castelhano brújula.
Nada disso é certo, o que acentua o enigma!
A frase "A confissão da bruxa" confirma a condenação. Fogueira é o seu destino. E de onde vem a terrível palavra "bruxa"?
A origem é desconhecida, dizem alguns. Controvertida, dizem outros.
Uma hipótese é que proceda da palavra celta *ver-ouxa, "a que está muito alta", aludindo ao voo das bruxas, físico, ou à capacidade de voar mentalmente.
Outra hipótese: o latim vulgar *bruxu, "gafanhoto sem asas", um inseto feio e daninho. Mais tarde o termo teria sido aplicado ao demônio e aos hereges: "bruxos" e "bruxas".
Outra, bem curiosa: viria do basco buruz, traduzível pela expressão "de cabeça para baixo". Alguns etimólogos afirmam que dessa palavra veio o nosso "de bruços". Mas outros especulam que se refere às bruxas, cuja cabeça está escondida sob o capuz.
Outra possibilidade faz pensar que as bruxas, por saberem adivinhar coisas, por sua astúcia e sagacidade, têm a ver com a "bússola" (que adivinha o rumo), em consonância com o castelhano brújula.
Nada disso é certo, o que acentua o enigma!
sábado, 22 de maio de 2010
A liberdade do livro
O livro é uma das maiores invenções da humanidade. O vídeo mais abaixo o demonstra, ainda que faça alusão indireta a novas superações.
A palavra "livro" vem do latim liber, "casca" ou "entrecasca" de árvores. O etimólogo José Pedro Machado explica que liber se referia à parte da planta do papiro que era libertada. Faz sentido, portanto, dizer que o livro nasceu para libertar...
A palavra "livro" vem do latim liber, "casca" ou "entrecasca" de árvores. O etimólogo José Pedro Machado explica que liber se referia à parte da planta do papiro que era libertada. Faz sentido, portanto, dizer que o livro nasceu para libertar...
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Que seja deletado!
Recebi uma nova pergunta: de onde veio o verbo "deletar"? Pelo verbo inglês to delete, "apagar", "remover". Antes, no latim, o verbo delere, com os mesmos sentidos, remetendo também à ideia de "destruir".
Lembremos que no século II a.C., Catão personificava e intensificava, no Senado romano, o ódio contra os cartagineses. E ele repetia obsessivamente em seus discursos: "Delenda est Carthago!" — "Cartago seja destruída!"... como de fato foi. Deletada!
No campo da saúde, temos em francês délétère, referindo-se ao "que destrói a saúde". A palavra invadiu o campo da moral, e por isso o adjetivo "deletério" indica aquilo que conduz à imoralidade e à corrupção.
Lembremos que no século II a.C., Catão personificava e intensificava, no Senado romano, o ódio contra os cartagineses. E ele repetia obsessivamente em seus discursos: "Delenda est Carthago!" — "Cartago seja destruída!"... como de fato foi. Deletada!
No campo da saúde, temos em francês délétère, referindo-se ao "que destrói a saúde". A palavra invadiu o campo da moral, e por isso o adjetivo "deletério" indica aquilo que conduz à imoralidade e à corrupção.
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quarta-feira, 19 de maio de 2010
O que guarda o guardanapo?
Palavras e realidades as mais cotidianas guardam segredos. O que guarda o guardanapo?
A palavra "guardanapo" vem do francês garde-nappe, sendo nappe proveniente de mappa, do latim. Na antiguidade, mappa era um pano que se lançava ao circo, dando início aos jogos. Com o tempo, o m tornou-se n, e o pano cresceu.
Por um lado, mantendo-se o m, tornou-se mappa mundi (latim medieval), a "carta geográfica". Nappe, no entanto, apareceu como um tecido que cobria o altar para a celebração da missa, ou uma toalha sobre a mesa na hora da refeição.
Seja o pão da missa ou do almoço, estaria resguardado do contato com a mesa ou o altar. Em sua versão menor, o guardanapo é colocado sobre a toalha para higiene dos comensais.
A palavra "guardanapo" vem do francês garde-nappe, sendo nappe proveniente de mappa, do latim. Na antiguidade, mappa era um pano que se lançava ao circo, dando início aos jogos. Com o tempo, o m tornou-se n, e o pano cresceu.
Por um lado, mantendo-se o m, tornou-se mappa mundi (latim medieval), a "carta geográfica". Nappe, no entanto, apareceu como um tecido que cobria o altar para a celebração da missa, ou uma toalha sobre a mesa na hora da refeição.
Seja o pão da missa ou do almoço, estaria resguardado do contato com a mesa ou o altar. Em sua versão menor, o guardanapo é colocado sobre a toalha para higiene dos comensais.
Corre uma lenda segundo a qual o guardanapo como o conhecemos foi uma ideia de Leonardo da Vinci. A pedido de um nobre que se preocupava com a limpeza das mãos e bocas dos seus convidados, Leonardo colocou um guardanapo em cada lugar da mesa, a fim de evitar que usassem a própria toalha! Durante o jantar, porém, ninguém sabia o que fazer com aquele paninho, para desgosto do genial inventor...
terça-feira, 18 de maio de 2010
Medo e canção
O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Esta é uma das estrofes da bela canção de Lenine, Medo. A palavra "medo" vem de metus (latim), que tem a ver com "meticuloso". O meticuloso tem medo de errar, de magoar, de cair. É medo bom. Já o medo de que fala a canção é medonho.
Quem canta o medo o medo espanta!
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar
Esta é uma das estrofes da bela canção de Lenine, Medo. A palavra "medo" vem de metus (latim), que tem a ver com "meticuloso". O meticuloso tem medo de errar, de magoar, de cair. É medo bom. Já o medo de que fala a canção é medonho.
Quem canta o medo o medo espanta!
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sábado, 15 de maio de 2010
n.d.a.
Arnaldo Antunes lançou este ano um novo livro de poesia. Chama-se n.d.a. (Editora Iluminuras). Uma estrofe do poema principal:
Alternativa nenhuma atrai, seduz ou alivia o poeta. A palavra provém do latim alternatio, "sucessão", "ação de revezar". Em princípio, uma alternativa não deveria excluir a outra. A expressão alternus sermo define o diálogo como um revezamento. Um fala, o outro escuta, e depois o primeiro escuta para que o outro fale.
nenhuma das alternativas
me desperta —
nem a borda que alarga
nem a corda que aperta
nem a boca que amarga
ou o açúcar que empedra
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sexta-feira, 14 de maio de 2010
Divulgar é a palavra
Divulgar é tão importante quanto escrever. A Editora Saraiva está divulgando bastante o Palavras e origens, e menciona este blog em seu material.
A palavra "divulgar" é formada pela partícula latina dis-, indicando variedade de direção, dispersão, e pelo verbo vulgare, que significa "espalhar", "publicar". Ao divulgar, lanço em todas as direções uma ideia, uma mensagem, uma palavra.
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terça-feira, 11 de maio de 2010
Colecionador de palavras
Um visitante deste blog perguntou sobre as origens da palavra "colecionar".
Todos somos colecionadores de alguma coisa. Colecionar é reunir de maneira mais ou menos organizada objetos que despertam interesse: livros, quadros, selos, mapas antigos, canetas, prendedores de roupa...
Todos somos colecionadores de alguma coisa. Colecionar é reunir de maneira mais ou menos organizada objetos que despertam interesse: livros, quadros, selos, mapas antigos, canetas, prendedores de roupa...
A palavra “colecionar” tem a ver com a palavra latina legere — "ler", "colher", que não está muito longe de outra, o verbo ligare, "prender", "atar", "ligar". O colecionador é aquele que sabe colher e ligar uma coisa com outra (coligar...), lendo, percebendo nexos e vínculos entre realidades dispersas.
Escrevi em 2007 um artigo sobre a arte (ou a mania...) de colecionar: Colecionador de palavras.
domingo, 9 de maio de 2010
A mãe etimológica
A etimologia é, de certo modo, a mãe de todas as ciências, na medida em que vê nascer todas as palavras. E sendo hoje Dia das Mães, interessa saber qual é a etimologia desta pequena mas importantíssima palavra.
A onomatopeia, fenômeno recorrente na história da linguagem, pode nos ajudar.
Se o "g" aparece em palavras relacionadas à garganta: "gula", "gosto", "grito", "gargalhada", "grunhido", o "m" nos leva para os lábios e o que eles tocam: "mel", "mamilo", e "mãe". O "m" de "mãe" é o mesmo "m" de "mamar" e "amar". A raiz indo-europeia *ma- autoriza essas associações.
E "mamãe", duplicando o "ma", é afetivo... e pragmático. Questão de sobrevivência física e psicológica. O bebê quer mamar na mamãe, beber do seu amor incondicional.
Se o "g" aparece em palavras relacionadas à garganta: "gula", "gosto", "grito", "gargalhada", "grunhido", o "m" nos leva para os lábios e o que eles tocam: "mel", "mamilo", e "mãe". O "m" de "mãe" é o mesmo "m" de "mamar" e "amar". A raiz indo-europeia *ma- autoriza essas associações.
E "mamãe", duplicando o "ma", é afetivo... e pragmático. Questão de sobrevivência física e psicológica. O bebê quer mamar na mamãe, beber do seu amor incondicional.
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sexta-feira, 7 de maio de 2010
A origem da palavra "origem" e da palavra "palavra"
Origo, em latim, abriga a ideia de nascimento, de causa e princípio. A origem é a fonte de onde jorra a realidade, e de onde nascem as histórias. Nos relatos de origem (originais) vejo surgir a compreensão que o ser humano tem sobre si mesmo e o mundo.
"Origem" remete à raiz indo-europeia
*ergh-, "pôr-se
a caminho", "levantar-se". O que nos leva a uma relação longínqua entre "origem" e "orquestra". Esta era um espaço no antigo teatro grego onde o coro fazia sua interpretação, de onde se erguiam vozes, narrando e comentando a ação.
Quando uma palavra nasce? Onde? É como uma voz que se ergue, um som que nasce das profundezas. Buscar as fontes da palavra, esse é o papel da etimologia.
E a palavra que nasce, nasce num contexto, dentro de uma história, de uma narrativa. Em grego, parabolê é "comparação", discurso em que há um sentido mais ou menos oculto. As parábolas de Cristo são o lugar da palavra que ensina, intriga, atrai, diverte, orienta e desperta.
"Origem" remete à raiz indo-europeia
*ergh-, "pôr-se
a caminho", "levantar-se". O que nos leva a uma relação longínqua entre "origem" e "orquestra". Esta era um espaço no antigo teatro grego onde o coro fazia sua interpretação, de onde se erguiam vozes, narrando e comentando a ação.
Quando uma palavra nasce? Onde? É como uma voz que se ergue, um som que nasce das profundezas. Buscar as fontes da palavra, esse é o papel da etimologia.
E a palavra que nasce, nasce num contexto, dentro de uma história, de uma narrativa. Em grego, parabolê é "comparação", discurso em que há um sentido mais ou menos oculto. As parábolas de Cristo são o lugar da palavra que ensina, intriga, atrai, diverte, orienta e desperta.
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quarta-feira, 5 de maio de 2010
O pouso do aposentado
Na primeira página do jornal Folha de S.Paulo de hoje, "aposentadoria" é palavra em destaque.
No século XVI circulava a palavra "apousentar", no sentido de fazer alguém pousar e repousar. O hóspede podia pousar no "apousento" de uma casa amiga. No século XIX o "u" já tinha ficado na estrada (ou terá pedido a aposentadoria?). A aposentadoria tornava-se direito trabalhista.
No século XVI circulava a palavra "apousentar", no sentido de fazer alguém pousar e repousar. O hóspede podia pousar no "apousento" de uma casa amiga. No século XIX o "u" já tinha ficado na estrada (ou terá pedido a aposentadoria?). A aposentadoria tornava-se direito trabalhista.
(Curiosidade: D. Pedro I concedeu a aposentadoria aos professores públicos que completassem 30 anos de serviço. Tal aposentadoria era denominada "jubilação", do latim jubilatìo,"gritos de alegria".)
Aquele que peregrina por muitos anos tem direito a pousar um dia. A palavra "pousar" remete ao latim pausare, "parar", "descansar". Mas descansar com dignidade. E aposentadoria não significa pendurar as chuteiras e ficar num canto, parado, paralisado. O aposentado pode e deve caminhar em novas direções, dedicando-se a atividades diversas e exercendo funções sociais relevantes.
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terça-feira, 4 de maio de 2010
Em busca de concursos
Uma das palavras mais procuradas na web é "concurso".
Em latim, concursus indica "ação de correr juntamente". A palavra tinha um sentido militar muito preciso: um exército avançava contra outro, os soldados concorriam, corriam unidos em direção ao inimigo.
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segunda-feira, 3 de maio de 2010
Focar em foco
Palavra na moda: o verbo "focar". Todo mundo está precisando focar. O importante é focar os objetivos, o jogo, a vitória, focar uma coisa de cada vez, os investimentos, a estratégia, etc.
Antes de focar, as pessoas focalizavam ou enfocavam. A palavra menor parece mais atraente. Focar é, como nas outras formas, pôr em foco, para ver melhor e, em consequência, agir melhor.
A palavra proveio do latim focus,"lume", "fogo". Focar tem duas direções. Ou olhamos para o foco, que pode ser o próprio fogo, e o que está ao redor fica mais visível, ou fazemos a luz (do nosso olhar) focar, iluminar, determinado ponto.
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domingo, 2 de maio de 2010
O peso da culpa
A capa da revista ISTOÉ desta semana traz no título principal a palavra "culpas", associada a uma imensa pedra nas costas de uma pessoa. Qual o peso da culpa? A etimologia pode tornar a culpa menos assustadora?
No latim, temos culpa, no sentido de "delito", "erro", "vício". Retrocendo um pouco mais, chegamos ao verbo grego keleuo, "impelir", "chamar", "pôr em movimento" — o erro como resultado de um impulso interior.
Este impulso é deliberado? Podemos controlá-lo? Os antigos rezavam, em latim, uma fórmula de confissão pública em que se diziam culpados por terem pecado "cogitatione, verbo, opere et omissione", por pensamentos, palavras, atos e omissões. A culpa, portanto, nasce de quatro fontes.
Temos controle sobre o que pensamos, falamos, fazemos... ou sobre o que deixamos de fazer?
Daí a importância da palavra "desculpar". Quem admite abertamente a culpa (própria ou alheia) pode empregar o prefixo "des-". Desculpar e desculpar-se é seguir o impulso contrário ao da culpa, o impulso que afasta o erro, em busca do acerto.
A culpa sem desculpa é peso insuportável. Para o culpado, sem dúvida, mas também para aquele que inculpa alguém.
No latim, temos culpa, no sentido de "delito", "erro", "vício". Retrocendo um pouco mais, chegamos ao verbo grego keleuo, "impelir", "chamar", "pôr em movimento" — o erro como resultado de um impulso interior.
Este impulso é deliberado? Podemos controlá-lo? Os antigos rezavam, em latim, uma fórmula de confissão pública em que se diziam culpados por terem pecado "cogitatione, verbo, opere et omissione", por pensamentos, palavras, atos e omissões. A culpa, portanto, nasce de quatro fontes.
Temos controle sobre o que pensamos, falamos, fazemos... ou sobre o que deixamos de fazer?
Daí a importância da palavra "desculpar". Quem admite abertamente a culpa (própria ou alheia) pode empregar o prefixo "des-". Desculpar e desculpar-se é seguir o impulso contrário ao da culpa, o impulso que afasta o erro, em busca do acerto.
A culpa sem desculpa é peso insuportável. Para o culpado, sem dúvida, mas também para aquele que inculpa alguém.
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sábado, 1 de maio de 2010
Bater ou debater?
Ao debaterem, as pessoas apresentam suas convicções e refutam as ideias e argumentações alheias com o máximo respeito possível.
No latim, o verbo battuere referia-se a “lutar”. O substantivo battitura, “martelada”, faz pensar na violência deste bater. Provêm ambos da raiz indo-europeia bhau- (“golpear”, “ferir”), bem como temos hoje "abater" e "abatedouro".
Outras palavras que derivam daquele verbo latino ganharam, ao longo dos séculos, conotações em que a agressividade é bem menor, com abertura para a criatividade.
A “batedeira” ajuda a cozinheira em sua arte. A “bateria” exige um “baterista” que bata com força para obter música. Um “bate-bola” é divertir-se com a bola, tocá-la e chutá-la sem a ânsia de fazer gols e vencer o adversário.
No campo político, o debate permite aos ouvintes perceberem com que força e coerência os oponentes se posicionam diante de temas fundamentais para a vida nacional.
A palavra “debate” chegou-nos pelo francês débat — “controvérsia”, “discussão” —, associada a “combater” e “rebater” retoricamente. Lutar e bater com palavras é um sinal de civilidade.
Outras palavras que derivam daquele verbo latino ganharam, ao longo dos séculos, conotações em que a agressividade é bem menor, com abertura para a criatividade.
A “batedeira” ajuda a cozinheira em sua arte. A “bateria” exige um “baterista” que bata com força para obter música. Um “bate-bola” é divertir-se com a bola, tocá-la e chutá-la sem a ânsia de fazer gols e vencer o adversário.
No campo político, o debate permite aos ouvintes perceberem com que força e coerência os oponentes se posicionam diante de temas fundamentais para a vida nacional.
A palavra “debate” chegou-nos pelo francês débat — “controvérsia”, “discussão” —, associada a “combater” e “rebater” retoricamente. Lutar e bater com palavras é um sinal de civilidade.
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