sábado, 8 de setembro de 2012

Etimologia encrenqueira

Às vezes, diante de certas hipóteses etimológicas, convém dizer que a origem é obscura, que os estudiosos ainda não chegaram a um acordo... Ou então pode dar encrenca!

Esta palavra, por exemplo, é atribuída pela jornalista canadense Isabel Vincent no livro Bertha, Sophia e Rachel: a sociedade da verdade e o tráfico das polacas nas Américas (Editora Relume Dumará, 2006) a um dizer em iídiche, “ein krenk” (“um doente”), que as prostitutas judias sussurravam entre si quando aparecia na zona um cliente suspeito de ter alguma doença venérea.

Para Márcio Cotrim, no seu livro O pulo do gato 2, quando alguma prostituta polonesa da zona do meretrício carioca estava com um cancro (doença venérea) alertava possíveis fregueses com a seguinte frase: "Ich habe ein Kranke", isto é, "Eu tenho um cancro".

O escritor e acadêmico Raimundo Magalhães Júnior, em seu Dicionário brasileiro de provérbios, locuções e ditos curiosos, afirma que "encrenca" veio da Argentina, uma gíria por sua vez proveniente do catalão enclenque ("deitado", "acamado por doença", "sem forças"). Etimólogos espanhóis ensinam que enclenque terá vindo de um distante cranc (provençal), significando "coxo" e "impotente".

Ao chegar em terras sul-americanas, enclenque arrumou alguma encrenca e assumiu os significados variados de "situação confusa", "dificuldade", "tumulto" ou "intriga".

Há ainda uma outra conjectura, defendida por Mansur Guérios em seu Dicionário de etimologias da língua portuguesa. Escreve ele: "Mais razoável é admitir um verbo hipotético no português *crencar (e daí com prefixo encrencar), continuador de um latim *clinicare que se basearia em clinicus, 'doente acamado'."

domingo, 2 de setembro de 2012

Uma questão de fé

Pelo formspring recebo uma pergunta sobre a origem da palavra "".

Podemos falar em  no sentido religioso, ou no sentido de confiança humana, quando dizemos que alguém é fidedigno, digno de (da expressão latina fide dignus).

Neste segundo sentido, uma pessoa falsa, que atua de má-, pratica a perfídia, palavra esta que provém de per fidem decipere: "abusar da confiança de alguém para enganar".


Já a virtude teologal da , segundo o pensamento cristão, é um ato de confiança sobrenatural em Deus, ou o próprio conteúdo em que se acredita, e daí a expressão "depósito da ". Do ponto de vista dos antigos romanos, fides não tinha, obviamente, esse valor transcendental, acrescentado pelos cristãos.