quinta-feira, 30 de setembro de 2010

As duas faces da reverência

Perguntaram a este blog qual a origem da palavra "reverência".

No latim, reverentìa significava "receio", "temor respeitoso", mas também "estima". O verbo latino revereor é formado pelo prefixo re-, indicando intensidade, e pelo verbo vereor, "temer", "hesitar", "estar com cuidado".

A reverência é receio de ofender uma pessoa, um valor, um dever a cumprir, um princípio. Há um misto de temor e amor, de zelo, respeito e consideração. Reverenciar por medo apenas é diminuir-se. Amar sem boa dose de respeito pode levar ao descuido.

A título de exemplo, é bem conhecida a frase do poeta romano Juvenal (século I): "Maxima debetur puero reverentia", ou seja: "Devemos ter por uma criança o máximo respeito, a máxima reverência".

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O que há de comum entre o hotel, o hospital e o hospício?

Outra consulta a este blog: "Professor, as palavras 'hospital', 'hospício' e 'hotel' derivam de uma mesma raiz etimológica?"

Em meu livro Palavras e origens comento o parentesco entre "hotel" e "hospital". Ambas as palavras provêm do latim hospes, "aquele que é recebido". No caso de "hotel", a palavra chegou-nos pelo francês hôtel, que no século XIII foi hostel, em conexão com o latim medieval hospitale, designando casa suficientemente ampla, hospitaleira, em que se podia abrigar gente de fora.

Do século XV para o XVI começou-se a distinguir a instituição que, por caridade, acolhia os necessitados em geral (pobres, forasteiros, viajantes, peregrinos, velhos, enfermos...) da que cuidava dos doentes e moribundos. Nascia a ideia do hospital.

O vocábulo "hospício" remete igualmente a hospes. Casas (religiosas ou não) que hospedassem gratuitamente crianças e velhos abandonados, pessoas incapacitadas para o trabalho ou doentes incuráveis adquiriram o perfil de asilos. Mais tarde, a palavra ficou associada ao lugar de abrigo para os alienados mentais.

domingo, 26 de setembro de 2010

O camelo hiperbólico

Chegou a este blog uma pergunta mencionando São Jerônimo, padroeiro dos tradutores, santo que os católicos homenageiam no mês de setembro: "Já que está falando de religião, por acaso houve erro na tradução de São Jerônimo na expressão bíblica 'é mais fácil um camelo passar pelo buraco da agulha, do que...' ou 'camelo' está errado e deveria ser 'corda' (do grego)?"

De fato, surgiu uma polêmica em torno dessa passagem, em que Jesus afirma não terem os ricos a menor chance de entrar no reino de Deus. Seria tão impossível quanto um camelo passar pelo buraco da agulha (cf. Mt 19:23-30; Mc 10:23-31 e Lc 18:24-30).

Conforme alusão de Deonísio da Silva em seu A vida íntima das frases (Novo Século, 2009), foram levantadas duas hipóteses com relação à tradução, tornando a frase menos exagerada... hipóteses que na verdade se opõem.

Teria havido, no texto grego, uma troca entre kamelos ("camelo") e kamilos ("corda grossa", "calabre"). A própria palavra do aramaico utilizada por Cristo carregaria ambiguidade — gamla ("camelo") e gamala ("corda grossa").

Além de parecer mais lógico (afinal, o que teria um camelo a ver com agulhas?), a imagem da corda grossa permitiria uma saída para os ricos, como nos conta João Ribeiro no livro Frazes feitas (Francisco Alves, 1908). Segundo interpretação mais liberal, o calabre poderia passar pelo fundo da agulha, contanto que fosse desfiado. Passaria fio por fio, exigindo paciência e esforço.

Numa segunda hipótese, que suavizaria também a frase evangélica e daria uma chance aos ricos, diz-se que o "olho da agulha" era o nome de uma por­ta estrei­ta à entrada de Jeru­sa­lém. Se o camelo inclinasse a cabeça (sinal de humildade...) ou se deixasse cair por terra boa parte da carga (desprendimento...), poderia atravessá-la.

Não é possível aceitar as duas hipóteses ao mesmo tempo. Ou o camelo é uma corda ou a agulha é uma porta. Ambas parecem mais sensatas do que a hipérbole patente no texto em latim: "Facilius est camelum per foramen acus transire, quam divitem intrare in regnum Dei" (Mt 19:24). A tradução: "É mais fácil o camelo passar pelo buraco da agulha do que o rico entrar no reino de Deus."

Camelo atravessando
o buraco da agulha
graças ao dinheiro,
de Eric Angeloch

As duas hipóteses, no entanto, carecem de fundamentos mais sólidos. Analisar o texto evangélico requer contextualizações linguísticas, culturais e teológicas. O "rico", para Cristo, era todo aquele que confiava nos bens materiais mais do que em Deus. O camelo tentando passar pelo buraco da agulha é hipérbole humorística. O exagero desmonta a ideia dominante de que os bens materiais, muitos ou poucos, garantem algum tipo de salvação. Essa presunção e essa arrogância são perigoso caminho. Impossível entrar no âmbito divino sem a riqueza espiritual.

De mais a mais, não se trata de frase absurda para os ouvintes orientais. Basta lembrar passagem semelhante no livro sagrado dos muçulmanos (Alcorão 7:40): "Aqueles que desmentirem os Nossos versículos e se ensoberbecerem, jamais lhes serão abertas as portas do céu, nem entrarão no Paraíso, até que um camelo passe pelo buraco de uma agulha."

Entre os judeus, é conhecida a passagem no Talmude em que, para definir uma coisa impossível, fala-se de um elefante atravessando o orifício da agulha (cf. Tratado Berachot 55b).

sábado, 25 de setembro de 2010

O cheque nem sempre está em xeque

Há quem se confunda e em vez de escrever "em xeque" ("em perigo", "em situação duvidosa"), expressão baseada no jogo do xadrez, escreve "em cheque". Mas a confusão não é por menos...

O cheque é um documento bancário. A palavra chegou-nos pelo inglês, do verbo to check, "fiscalizar", "verificar". No século XVIII, encontramos bank check. O nosso "cheque" começou a circular no século seguinte, adquirindo com o tempo diferentes modalidades: pré-datado, visado, especial e... voador!

Curiosamente, check em inglês também tem a ver com "xeque" em português, no âmbito do xadrez. Dizemos, em inglês, "my king is in check", "meu rei está em xeque", em perigo, está sendo atacado.

No latim vulgar, a forma *scaccus proveio do árabe xah, "rei", peça principal do xadrez. As formas intermediárias échec (francês) e jaque (espanhol) levaram a xaque (antigo português) e ao nosso "xeque". Quando o rei sofre ameaças, é preciso gritar seu nome, adverti-lo de que corre sérios riscos. A noção de que algo está correndo perigo saiu do tabuleiro e se expandiu para outros terrenos a partir do século XIV.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Insulto bem gaúcho

Um leitor pede a etimologia de "calavera".

Trata-se de insulto típico no Rio Grande do Sul. Aparece na obra de escritores gaúchos como Érico Veríssimo e Sergio Faraco. Pode-se dizer/escrever "calavera" ou "calaveira", com vários significados: "indivíduo desocupado", "ocioso", "caloteiro", "vagabundo", "malandro".

Remete ao espanhol calavera, "caveira", com o sentido de "estouvado" e "leviano". A palavra nos envia ao latim calvaria, "crânio". A questão é saber qual a relação entre a caveira, o crânio descarnado, e um calavera.

Uma hipótese: calavera é o cabeça de vento, o cabeça-oca, aquele que não pensa. A caveira como cabeça vazia seria a imagem de um doidivanas.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Etimologia na escola

O leitor Marcos, do Rio de Janeiro, perguntou: "Prof.Gabriel, gostaria, se possível, de que comentasse sobre a origem de algumas palavras. São elas: 'educação', 'escola', 'aula', 'professor' e 'aluno'. Grato!"

Marcos, você já pode ler no blog a origem da palavra "professor". Quanto a "aluno", procede do verbo latino alere, referente à alimentação, ao sustento e ao crescimento. O aluno se nutre das palavras do professor, ou de um livro, ou de um site, um documentário etc., assimilando e transformando em conhecimento próprio tudo o que ouve, vê e experimenta.

"Educação" é verbete no meu livro Palavras e origens, e lá eu explico que ducere, em latim, com o sentido de "trazer", associado a ex ("fora") indica que educar é "conduzir para fora". Podemos especular que seja um conduzir o aluno para fora de si mesmo em direção à sociedade, ao mundo. Outra possibilidade é pensar a educação como um processo que traz à tona os nossos talentos.

Uma sala de aula retratada
por Albert Anker (1831-1910)
"Aula" (outro verbete no meu livro) proveio do grego aulé, indicando um espaço dentro dos palácios em que se podia ficar. "Áulico" é, hoje, sinônimo de "palaciano". A sala de aula é expressão pleonástica. Se pensamos aula como exposição feita pelo professor sobre algum assunto, temos uma metonímia, enfatizando-se o que ali se realiza.

E "escola", também comentada no Palavras e origens, provém do grego skholé, espaço vital em que se praticava o ócio, a discussão livre, o aprendizado como experiência intensa, a salvo das pressões externas.

Para quem quer conhecer a origem de outras palavras relacionadas ao mundo da escola, do estudo, da academia, recomendo Oculto nas palavras, de Luis A. Castello e Claudia T. Mársico (Autêntica, 2007).

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O céu considerado

Um leitor volta a perguntar: "Professor, procede a ideia de que 'considerar' é 'estar/conversar com as estrelas'? Grato pela ajuda!"

Meu caro, "considerar" tem a ver com observação minuciosa, com um examinar atento e cuidadoso. Porque, como você já antecipou, associava-se à importantíssima tarefa de observar as estrelas.

No latim, considerare era verbo formado por com- ("com") e sidus ("constelação"). Os antigos olhavam para o céu e para as estrelas, em busca de respostas.
Os chamados três magos da tradição cristã viviam fazendo considerações, e foi um fenômeno sideral que os conduziu à manjedoura de Jesus recém-nascido.

O termo se afastou da noção astrológica/astronômica, mas vale a pena lembrar que a observação atenta do céu requeria boa dose de meditação e capacidade interpretativa, o que pode nos fazer reconsiderar, repensar, reavaliar nossa visão de mundo.

Por oposição, vislumbramos na palavra "desconsiderar" uma atitude de desprezo, em que alguém ou algo são excluídos do nosso horizonte existencial.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O desejo de estudar

Esta mensagem rendeu: "Professor, gostaria de conhecer melhor a origem de algumas palavras (não afins). São elas: 'irmão', 'casamento', 'paraninfo' e 'estudar'. Grato pela ajuda!"

Prezado leitor, vimos a origem de "irmão", "casamento" e "paraninfo". Resta "estudar".

No meu livro Palavras e origens há o verbete "estudante", em que mostro a relação entre estudar para conhecer e gostar de conhecer.

Estudar é aplicar-se. O estudante se dedica, deseja saber, guarda na mente e no coração o que é importante.

Uma palavra em consonância é "estojo". Nascem ambas de *studiare (latim medieval), proveniente do latim studium, associado a "esforço",
"diligência", "zelo" e "cuidado".

domingo, 19 de setembro de 2010

Borboletas borboleteantes

O professor e escritor catalão Jorge Wagensberg, em seu livro Pensamentos sobre a incerteza (Saraiva, 2010), faz uma curiosa observação etimológica e entomológica. Chama nossa atenção para o fato de que as borboletas batem suas asas várias vezes em diferentes idiomas, multiplicando sílabas, asas bilabiais, fricativas, constritivas e oclusivas.
Será papallona (catalão), mariposa (castelhano), pinpilinpauxa (basco), papillon (francês), farfalla (italiano), butterfly (inglês), Schmetterling (alemão), baboqka (russo), kelebek (turco), parpar (hebraico), petalouda (grego), kipepeo (suaíli), fluture (romeno), pillangó (húngaro), liblikas (estoniano)...

Temos em português, além de "borboleta", a palavra "panapaná", que nasceu do tupi panã ("bater"). O bater das asas da borboleta suscita a palavra panamã. E diante de um bando de borboletas, as sílabas também se multiplicam: panapaná.

Quanto a "borboleta", há controvérsias. Uma hipótese, na mesma linha onomatopaica, é que proveio de papilio ("borboleta", em latim), com percurso borboleteante não muito claro. Outra possibilidade, com motivações visuais, conforme José Pedro Machado em seu dicionário etimológico, é ser reduplicação em tom afetivo de bellus ("bonito", "encantador", em latim). Teríamos tido então *belbellita (um diminutivo), que resultou em "borboleta" a partir do século XIV.

sábado, 18 de setembro de 2010

A hora e a honra do paraninfo

Retomando a mensagem de um leitor: "Professor, gostaria de conhecer melhor a origem de algumas palavras (não afins). São elas: 'irmão', 'casamento', 'paraninfo' e 'estudar'. Grato pela ajuda!"

Muito bem! Depois de "irmão" e "casamento", palavras já comentadas, chegou a hora de "paraninfo".

A palavra vem do grego paránumphos. Em sua formação, está nymphe, "noiva" ou "recém-casada", e para, "ao lado de". Quem está ao lado, está para proteger e ajudar. Era, entre os gregos, o amigo do noivo que acompanhava a noiva durante a cerimônia de casamento.

Ao longo dos séculos, essa espécie de padrinho surgiu em outras circunstâncias, como nos duelos. O paraninfo, na vida acadêmica, é escolhido pelos formandos de um curso para acompanhá-los neste momento de festa.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O mistério etimológico da religião

Nova consulta: "Professor, de onde vem 'religião'? A ideia é a de religar (o homem a Deus)? Obrigado, desde já!"

A etimologia popular atribui a origem da palavra "religião" a religare, do latim: a religião religaria o homem a Deus. Uma ideia bonita... mas sem fundamento. Etimologia falsa, embora cheia de boas intenções.

No latim, religio designava "respeito", "reverência". A palavra deriva de relegere, em que re-, "de novo", está associado ao verbo legere, "ler", abrigando o sentido de "tomar com atenção". Uma pessoa vive a religião quando, uma e outra vez, cuida escrupulosamente de algo muito importante, algo que deve ser cultuado.


Em sua origem latina, "religião" não é palavra religiosa, não remete ao transcendente, como quando falamos do ponto de vista do cristianismo, do judaísmo ou do islamismo. A religio romana referia-se à atitude de reverência que um cidadão romano tinha pelas instituições do Império.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O que professa o professor?

Nova consulta da leitora Maria Lídia: "Estou adorando este site e até abusando... poderia me explicar a palavra 'professor'? Não seria melhor 'ensinador', 'educador'? Obrigada."

Prezada Maria Lídia, vamos até o latim professor, indicando pessoa que professa, que declara (fateri) diante de todos (pro-) ser expert em algum saber. Ora, acreditamos que quem sabe pode, em princípio, ensinar a quem não sabe. Embora se diga, em tom de brincadeira, que quem sabe faz e quem não sabe... ensina.
Os professores professam, confessam saber algo, e afirmam saber ensinar. A palavra "ensinador" não está dicionarizada, mas poderia estar. Quem ensina
sabe assinalar (lembrando *insignare, do latim vulgar) algo, mostrar algo com clareza, enfatizar.
O educador, por sua vez, é quem alimenta, orienta, prepara. No latim clássico, educator forma-se com a partícula ex- e o verbo ducare: "conduzir para fora", admitindo-se que seja um conduzir a pessoa para fora de si mesma (abertura para o mundo) ou para fora do reduto familiar (descoberta de outros âmbitos da vida social).

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Vai de vaia

Um amigo me contou ter ouvido algumas pessoas dizerem que a frase "Quem tem boca vai a Roma" na verdade é "Quem tem boca vaia Roma". Estava meio perplexo e queria saber se "vai a" é mesmo "vaia".

Talvez haja aqui uma motivação anticlerical, se Roma estiver identificada com o Vaticano. Ou se trata de uma brincadeira, um trocadilho. A mesma expressão em outros idiomas refere-se à ideia de que chegará a Roma, ou a qualquer lugar do mundo, quem souber se comunicar. No século XIII, em francês, se dizia "Qui langue a, à Rome va". Quem tem boca, quem tem língua chega lá.

"Vaia" vem do espanhol vaya e/ou do francês baie. Em ambos os casos seria decorrência de uma interjeição de surpresa misturada com desaprovação. A expressão "bah" estaria próxima disso. Vaiar, manifestar insatisfação com a voz. Parentes da vaia são os apupos e assobios, com diferentes intenções de zombaria e reprovação.

domingo, 12 de setembro de 2010

Casa para quem casa

Um leitor escreve: "Professor, gostaria de conhecer melhor a origem de algumas palavras (não afins). São elas: 'irmão', 'casamento', 'paraninfo' e 'estudar'. Grato pela ajuda!"

Meu caro, vimos a origem da palavra "irmão". Agora, a palavra "casamento".
Procede do latim casa, "choupana", "pequena propriedade". Acrescentando-se a partícula -mentu (do latim vulgar) forma-se o substantivo, que surgiu no século X. Duas funções importantes da casa: proteger seus habitantes da inclemência do frio e dos incômodos do calor.

O casamento, no sentido etimológico, é um "lugar" caloroso, para nos proteger do frio da solidão, e arejado, para nos abrigar do fogo das dificuldades.

sábado, 11 de setembro de 2010

Irmão de verdade

Um leitor escreve: "Professor, gostaria de conhecer melhor a origem de algumas palavras (não afins). São elas: 'irmão', 'casamento', 'paraninfo' e 'estudar'. Grato pela ajuda!"

Prezado, para que a postagem não se disperse, comecemos com a palavra "irmão". Futuramente voltarei às outras.

No latim havia o adjetivo germanus, "autêntico", "natural", em relação com a noção de "origem". Pensemos na palavra "germe", momento inicial de um organismo.

A expressão latina frater germanus significava "irmão legítimo", nascido dos mesmos pais. O termo germanus sozinho passou a designar "irmão". Houve uma passagem de iermano (século IX), para a forma *ermão e, finalmente, a atual "irmão".

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Síndrome de Williams

Existem muitas síndromes por conhecer, e conhecê-las é fundamental para que a medicina e a educação ajudem seus portadores a viverem melhor. Uma delas, a Síndrome de Williams, descrita pela primeira vez em 1961, quase meio século depois ainda não é facilmente diagnosticada.

A palavra grega syndromos era, literalmente, "com" (syn) "correr" (dromos), "correr conjuntamente". Uma síndrome, conceito adotado pela ciência a partir do século XVI, indica a ocorrência concomitante de vários sintomas.

Voltando à Síndrome de Williams, procure informar-se. Pode haver alguém perto de você necessitando de orientação:

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

As raízes do entusiasmo

Um leitor escreve: "Professor, se possível, comente sobre a origem da palavra 'entusiasmo'... Grato!"

Prezado, em grego, enthousiasmos significa "possessão divina". Os antigos gregos assim chamavam o estado de ânimo do sacerdote durante seu contato com a divindade. Inspirado pelo poder do alto, o homem se sente invadido pela força sobrenatural.

entusiasmo consiste, portanto, em abrigar um deus dentro de si. O termo grego é composto por en ("dentro") + theos ("deus"), mais a terminação "asmos", presente em outras palavras como "marasmo" e "pleonasmo".

O estado de exaltação do poeta ou do artista em seus momentos de intensa criatividade, seu arrebatamento, paixão e ardor também são fruto, segundo uma visão aberta ao transcendente, desse contato com o divino.


Hoje, ser um entusiasta perdeu a conotação sagrada. O entusiasmo está vinculado à animação, à motivação, à vontade de fazer alguma coisa.

domingo, 5 de setembro de 2010

Crise, hora de criticar

O leitor Ricardo Leite (São Vicente/SP) escreveu: "Olá! Sou leitor deste blog há pouco tempo, mas já sou um grande admirador deste seu trabalho. E ouso pedir que mate uma curiosidade recente minha. Gostaria de saber um pouco sobre o verbo "criticar", e as palavras relacionadas a ele. A palavra "crise" tem ligação com "criticar"? Quando usamos a expressão 'período crítico' nos referimos à crítica ou à crise? Desde já, obrigado!"

Prezado Ricardo, a palavra grega krisis reporta à ação de "separar", "distinguir" e "decidir". Estar em crise é ser chamado a fazer escolhas, que vão gerar mudanças e transformações.

A palavra "crítica" foi precedida pelo termo latino critica, "apreciação", "julgamento", adaptação do grego kritike. Criticar é praticar a arte de avaliar e julgar.

Ambos os termos se encontram em *krei-  (partícula do indo-europeu), "separar", "peneirar". Em seu núcleo, outras palavras esperavam o futuro: "critério", "crisol", "crivo"...

Um período de crise é um período crítico, ocasião propícia para exercitarmos a crítica, utilizando nossos melhores critérios, fazendo passar o que vemos e ouvimos pelo crivo da sabedoria.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Consulta familiar

Minha filha mais nova (8 anos), influenciada pela curiosidade etimológica, me pergunta qual a origem da palavra "academia". Está lendo o livro Academia de princesas, de Shannon Hale, e teve vontade de saber, comprovando tese aristotélica de que aprender é o que há de mais natural no ser humano.

A palavra remete ao grego Akademeia, local próximo a Atenas, no qual Platão instalou sua escola. O nome homenageia o herói Academo, que revelou a Castor e Pólux onde Teseu escondera Helena de Troia.

O nome do herói Academo compõe-se de heka, preposição indicando distanciamento, separação, e demos, "povo". Academo, portanto, significa "aquele que age longe do povo", ou seja, livremente, por sua própria iniciativa.